Zeca Pagodinho, o sambista herói de Xerém

Fonte Veja
Com quadriciclo, ele socorreu moradores, buscou informações e deu carona a desabrigados em Duque de Caxias. "Dá nojo. Nojo dos políticos", disse

Zeca Pagodinho ajuda vítimas da chuva em Xerém, Duque de Caxias, onde tem sítio

Na cidade mais atingida pelo primeiro temporal de 2013 no estado do Rio, uma figura bem conhecida da população se destacou como a imagem da solidariedade. Proprietário de um sítio no distrito de Xerém, em Duque de Caxias, o sambista Zeca Pagodinho interrompeu o descanso para ajudar desabrigados, buscar informações sobre famílias sem comunicação e dar carona a moradores da região, em um quadriciclo motorizado. Zeca chegou a fazer um alerta, ainda pela manhã: o de que crianças e famílias inteiras estariam desaparecidas na parte alta de Xerém – o que não foi confirmado pela Defesa Civil do município.
Sempre irônico, com humor rápido, Zeca estava irreconhecível. Cabisbaixo, chegou a chorar em uma das entrevistas que deu ao longo do dia. Perguntado sobre o que sentia ao ver a destruição, foi sucinto. “Estou aqui há 20 anos. Meus filhos foram criados aqui. Lá em cima está muito ruim. Há criança desaparecida, casa que caiu rio abaixo. Estamos desde 6h da manhã batalhando”, disse.
Xerém é uma localidade pobre. E, como grande parte da Baixada Fluminense, enfrenta os problemas de falta de estrutura capaz de prevenir as chuvas de todo verão. Na baixada, as áreas onde foram construídos alguns bairros estão destinadas a sofrer no período das cheias por uma característica incontornável: foram construídos em regiões mais baixas que o nível do mar, onde antes havia lavouras que se beneficiavam da inundação como forma de irrigação natural.
Na enchente de agora, o poder público deu um empurrão para a tragédia: segundo o prefeito recém-empossado Alexandre Cardoso (PSB), que já foi secretário de Saneamento do estado, havia 50.000 toneladas de lixo acumulado nas ruas de Caxias no momento do temporal. Desde o fechamento do aterro de Gramacho, a destinação do lixo é um problema para a cidade, que não tem área adequada para depósito dos resíduos sólidos.
Zeca não é especialista em prevenção de desastres, mas deu sua versão para o que viu em Xerém esta manhã. “É um descaso. Isso dá nojo. Nojo dos políticos”.

Alagamentos deixam 3.000 pessoas sem casa no Rio. Em Duque de Caxias, 1.000 pessoas ficaram desalojadas no distrito de Xerém. Em Angra dos Reis, 2.000 moradores foram retirados de casa preventivamente.

As chuvas da madrugada e da manhã desta quinta-feira já afetam mais de 3.000 pessoas no estado do Rio. Um balanço da Defesa Civil estadual divulgado nesta tarde informa que Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, tem mil pessoas desalojadas pelas cheias dos rios, concentradas no distrito de Xerém. Em Angra dos Reis, no Litoral Sul, 2.000 pessoas foram retiradas de casa preventivamente, devido ao risco de deslizamento de terra.
A situação é mais grave na Baixada Fluminense, onde foi registrada a primeira morte do ano em decorrência das chuvas: um homem que estava em uma casa destruída pela cheia dos rios em Xerém.
A preocupação, agora, é também com a Região Serrana, onde há dois anos um temporal matou mais de 900 pessoas. A previsão é de chuvas fortes para esta noite, o que mobiliza equipes da Defesa Civil e voluntários, que orientam famílias em áreas identificadas como perigosas para escorregamentos de terra.
Também há desalojados em Angra dos Reis (172), Petrópolis (40) e Teresópolis (50). Por volta das 16h30, a situação era tranquila nas cidades serranas de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, as mais afetadas pela chuva de janeiro de 2011. A Defesa Civil de Teresópolis permanece em estágio de atenção devido à previsão de chuva moderada a forte prevista para a tarde e a noite desta quinta-feira. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Defesa Civil está acompanhando a previsão do tempo, através de sua sala de monitoramento, e repassando os boletins e alertas meteorológicos para os voluntários dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil para orientar a população em caso de chuva forte.
O governador Sérgio Cabral determinou, no fim da manhã, a criação de um “gabinete de crise” no Centro Estadual de Gestão de Desastres (Cestad). O centro, na Praça da Bandeira, é uma estrutura que funciona pela primeira vez este ano, com a missão de centralizar informações e facilitar a tomada de decisões em situações de chuvas, risco com produtos químicos, emergências nucleares (em função das usinas de Angra dos Reis) e riscos naturais.
O governo do estado informou que, na manhã desta sexta-feira, Cabral deverá se reunir como ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, para discutir medidas contra os efeitos da chuva no estado. O encontro deve acontecer no Palácio Guanabara, na zona sul do Rio, sede do governo.
O balanço da Defesa Civil estadual informa os seguintes danos nas cidades atingidas pela chuva:
Angra dos Reis
8 casas destruídas
172 pessoas ficaram desalojados
2.000 pessoas retiradas de suas casas preventivamente
3 feridos
Mangaratiba
Rolamento de pedras na BR – 101 e na Estrada Junqueira
Em Constância, houve desabamento de muro, com destruição de uma casa
Evacuação de Conceição de Jacareí
Deslizamento em Fazenda Ingaíba
Alagamento em Muriqui
Duque de Caxias
Transbordamento do Rio Saracuruna, Inhomirim e Capivari
Xerém – 1 óbito confirmado (homem adulto)
Mil pessoas desalojadas
Petrópolis
Transbordamento dos rios Bingen e Piabanha
Escorregamento em bairros como Alto Independência, Siméria, São Sebastião
40 desalojados
Foram montados dois pontos de apoio e dois abrigos em Alto Independência e Siméria
Sirenes foram acionadas
Teresópolis
Transbordamento do rio Paquequer
50 desalojados das comunidades de Vale da Revolta, Perpétuo, Rosário, Caxangá e Pimentel
Sirenes acionadas