Familiares dos 12 mortos no Cabula se desesperam no hospital

Fonte: iBahia
Eram 9h. O saguão do Hospital Roberto Santos estava tumultuado e, de repente, um grito ecoou. “Eu só queria saber se meu neto estava vivo ou morto e ninguém me deixa entrar!”. Era a costureira Maria Santos. “Pode me matar junto!”. O único neto dela, Natanael de Jesus Costa, 17, desapareceu na noite de quinta-feira, quando foi levar uma pizza na casa da namorada próximo ao campinho da Vila Moisés, na Estrada das Barreiras.

 

A informação que Maria recebeu dos vizinhos foi que o garoto estava entre as vítimas do tiroteio entre a Rondesp e um grupo armado. Após muito esperar e gritar, a costureira saiu do local para o IML, pois descobriu que o neto integrava o saldo de 12 mortos da ação policial.
Enquanto Maria gritava, outras tantas famílias se amontoavam na entrada da emergência do hospital. Evilásio da Conceição, que é operador de máquina na Codeba, chegou ao local às 8h30 com a certeza da morte do filho único, Elenilson Santana da Conceição, 22 anos.
“A última vez que o vi foi ontem à tarde. Ele pediu a bênção e disse que iria dormir na casa da namorada. De madrugada, recebi uma ligação avisando que alguém parecido com ele estava morto”. Mas depois de muita confusão até chegar ao posto policial do hospital, Evilásio descobriu que o filho estava vivo, mas havia sido baleado ( no final da tarde a unidade de saúde informou que seu estado é grave).
“Ele estava no lugar errado na hora errada. Meu filho não fazia parte de facção, é usuário”, desabafou Evilásio. Do lado de fora, os olhos das mais de 50 pessoas não abandonavam as portas de acesso à emergência. Um maqueiro abandonou seu posto para ajudar com informações.
Ele explicou à dona de casa Nivia Gomes das Virgens que reconhecimento de vítimas só seria feito no IML, já que o nome do filho dela não estava na lista dos sobreviventes internados. Tiago Gomes das Virgens, 19, já não morava com a mãe e, segundo ela, a distância só contribuiu para que o jovem mergulhasse no crime.
“Ele resolveu ir morar na casa da minha mãe, na Engomadeira, e, em seguida, decidiu largar a escola”, relatou Nivia. “Tiago começou a se envolver com o crime e, quando nós aconselhávamos, ele dizia: ‘um dia todo mundo tem que morrer’. Eu falava que a história dele não precisava ser essa”, comentou a dona de casa, revoltada.  
Uma enfermeira que trabalha no hospital há cinco anos afirmou que  nunca tinha visto um caso tão violento. “Já trabalhei no HGE, vi chacinas, mas 11 pessoas de uma só vez, é novo. O clima está muito pesado, é muito sofrimento”, afirmou.
Um dos sobreviventes, Arão de Paula Santos, 23, baleado na perna, recebeu alta e foi levado para depor. Segundo o diretor do DHPP, Jorge Figueiredo, Arão disse que estava no local só fumando maconha e não fazia parte do bando. Ainda segundo Figueiredo, Arão relatou que, ao ver os PMs chegarem, os bandidos gritaram “as puta tão descendo, vamos meter!”, e começaram a atirar. Arão está preso.