Deslizamentos no 01 de janeiro de 2010

Fonte: estadão 
Deslizamentos em Angra dos Reis matam ao menos 30 pessoas. Desabamento na Ilha Grande deixou 19 mortos; no centro da cidade, 11 pessoas morreram soterradas
RIO - As fortes chuvas dos últimos dias de 2009 transformaram num cenário trágico um dos principais paraísos turísticos do Estado do Rio. O deslizamento de uma encosta atingiu uma pousada e sete casas na Ilha Grande, na baía de Angra dos Reis, matando pelo menos 19 pessoas. No continente, outras 11 pessoas morreram em outro desmoronamento de terra, no Morro da Carioca, no centro histórico da cidade, totalizando em pelo menos 30 o número de vítimas fatais da tragédia. Até o início da noite desta sexta-feira, 1º, bombeiros ainda trabalhavam em busca de outras vítimas ou sobreviventes.
Na Ilha Grande, os bombeiros haviam resgatado pelo menos 13 corpos de turistas e seis de moradores locais, informou o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão.
Em todo o Estado do Rio, 52 pessoas já morreram em consequência da chuva dos últimos dias. De acordo com a Defesa Civil, Angra dos Reis vinha sofrendo com as chuvas desde a quarta-feira, 30, e já tem 800 pessoas desabrigadas. 
Segundo os bombeiros, cerca de 65 pessoas que estavam hospedadas na Pousada Sankay, na praia de Bananal, na face continental da ilha, escaparam do incidente com vida. Casas vizinhas à pousada, que ficou totalmente destruída, também foram atingidas pelo deslizamento.
Entre os mortos está a filha dos proprietários da pousada. Yumi Faraci, de 18 anos, e um casal de amigos dela ficaram sob os escombros e não resistiram. Os donos, Geraldo e Sonia Faraci, escaparam com vida, mas ficaram muito abalados. A família deles, de Belo Horizonte, não quis comentar a tragédia.
Mais de 100 pessoas, entre bombeiros, médicos e voluntários, foram mobilizados para a operação de resgate na cidade. Militares da Marinha também ajudaram. Helicópteros e navios forem empregados no transporte de equipamentos e de pelo menos 10 feridos.
O comandante geral do Corpo de Bombeiros do Rio e subsecretário estadual de Defesa Civil, Pedro Machado, e o secretário de Saúde e Defesa Civil do Rio, Sérgio Côrtes, estão em Angra e ajudam no trabalho de resgate.
"Existe muita dificuldade para fazer esse material todo chegar aqui (Ilha Grande). As pedras e árvores que caíram sobre a pousada e as casas são muito grandes", explicou o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que chegou à ilha ainda pela manhã. "Infelizmente, acreditamos que vamos ter um número ainda mais elevado de vítimas por conta desses desmoronamentos".
Desaparecidos
Autoridades envolvidas na operação estimam que pode haver pelo menos mais 25 corpos na Ilha Grande. No Morro da Carioca, favela localizada no centro de Angra dos Reis, dezenas de pessoas estariam desaparecidas sob escombros e uma grande quantidade de terra. Muitas delas seriam crianças. Oficialmente, até o início da noite desta sexta-feira, eram 11 os mortos em consequência do deslizamento de terra no local.
O trabalho de resgate na favela é delicado, pois existe a possibilidade de um novo deslizamento se a chuva persistir. À noite, as buscas por corpos ou sobreviventes tiveram de ser interrompidas.
Em estado de choque, moradores da Carioca lamentavam a tragédia. De acordo com vizinhos, um ex-funcionário da prefeitura, conhecido como seu Zezinho, estaria soterrado com outras 13 pessoas de sua família - apenas uma teria escapado do desmoronamento. Ao todo, 800 pessoas foram retiradas do Morro da Carioca e abrigadas em três escolas do município.
Desesperados, os sobreviventes deixaram rapidamente suas casas, todas de alvenaria e regularizadas pela prefeitura de Angra, antes mesmo da chegada da Defesa Civil e dos bombeiros. Eles carregaram roupas e outros pertences, alguns eletrodomésticos e pequenos móveis.
Informações desencontradas também indicavam que em outra casa do Morro da Carioca oito crianças estariam soterradas, juntas com o pai e a mãe.
"O clima aqui é de desolação, de pânico, os abrigos estão abarrotados e a toda hora surge um ou outro nome de alguém desaparecido", contou, por telefone, a jornalista Tatiana Musse, que mora em Angra dos Reis.

Apoio federal
Pezão comanda desde as 8h da manhã desta sexta-feira as operações de resgate de feridos e recuperação dos corpos das vítimas do desmoronamento. As dificuldades de acesso e a falta de infra-estrutura foram os principais obstáculos apontados por ele para a realização dos trabalhados.
Segundo o vice-governador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, ligaram para oferecer todo o apoio logístico necessário, principalmente da parte da Marinha. Na manhã deste sábado o governador do Estado, Sérgio Cabral, deverá se dirigir à Ilha Grande.
A intenção de Cabral é acompanhar de perto o trabalho de resgate das vítimas de chuvas.
Embarcações oficiais foram usadas para tentar isolar o local dos muito curiosos que foram até a região mais atingida. Ainda de acordo com Pezão, estaleiros da região foram procurados para auxiliar no transporte de máquinas pesadas para remoção do entulho. Holofotes serão levados para o local, a fim de permitir a realização dos trabalhos de resgate durante a noite.
Pezão passava a virada do ano na mansão de veraneio do governador Sérgio Cabral (PMDB), em Mangaratiba, município vizinho a Angra dos Reis, quando foi alertado sobre a situação ainda de madrugada pelo prefeito da cidade, Tuca Jordão (PMDB). Ele deve passar todo o fim de semana na região. Também de manhã, o secretário de estado de Saúde, Sérgio Côrtes, foi para a ilha para auxiliar no resgate às vítimas. No fim da tarde, Cabral divulgou uma nota lamentando a tragédia na cidade e prestando "a sua integral solidariedade aos familiares das vítimas, diante de momento tão triste e doloroso para todos".
Ex-prefeito de Angra dos Reis, o deputado federal Luiz Sérgio (PT) percorreu alguns dos locais mais afetados pela chuva na cidade. Segundo ele, a situação no Morro da Carioca é crítica, com diversos pontos ainda em risco de desmoronamento e muita gente desabrigada. "Nunca vi chover tanto e em tantas áreas da cidade. Já tivemos anteriormente problemas em locais específicos, enchentes em determinadas regiões. Mas dessa vez, a tempestade castigou o munípio todo", disse ele.
Grande parte de Angra dos Reis está sem telefone fixo e algumas regiões ainda permanecem sem energia elétrica, devido à queda de árvores. O centro da cidade ficou sem luz por volta das 2h e o restabelecimento voltou às 9h30. Em Ilha Grande ainda falta energia.
Possibilidades de chuva
Segundo a empresa de meteorologia Climatempo há possibilidades de novas chuvas em Angra dos Reis até o final desta sexta-feira, pois o ar está muito úmido e quente, o que facilita o crescimento das nuvens de chuva. Desde as 9 horas desta manhã não há registro de chuva no município.
De acordo com a Climatempo, apesar de ainda haver muita nebulosidade sobre o município, houve elevação da temperatura ao longo do dia, que chegou aos 31ºC. O radar meteorológico do Pico do Couto, no Rio de Janeiro, operado pela Aeronáutica, não detectava chuva sobre a região. Porém, novas áreas de chuva já tinham surgido na região de Mangaratiba.
Além do Morro da Carioca, os bairros de Angra Getulândia e Morro da Glória 2 também estão em situação crítica, elevando o risco de novos desmoronamentos, em caso de chuva. 
Rio-Santos
A região de Angra e Paraty foi muito atingida pela chuva desta quinta-feira, 31, último dia do ano. Uma queda de barreira interditou os dois sentidos da BR-101 (Rio-Santos) próximo a Paraty. Também houve deslizamentos em pelo menos outros quatro pontos da rodovia, um deles ocorreu bem próximo à entrada de Angra. A Polícia Rodoviária Federal recomenda que os motoristas evitem a rodovia.
O prefeito da cidade, Tuca Jordão, declarou estado de calamidade e luto oficial por três dias. Ele também cancelou  a programação do final de ano, entre elas a tradicional procissão marítima que aconteceria hoje. A festa em comemoração aos 508 anos de Angra, que seria comemorada no próximo dia 6, também foi cancelada.


Capital do Estado
Na capital carioca, o prefeito Eduardo Paes decretou estado de alerta, com a queda de mais de 100 barreiras. Também há 17 imóveis com risco de desabamento. O prefeito pediu que as pessoas que moram em áreas de risco saiam de suas casas pelo menos até sexta-feira por causa da manutenção do risco de deslizamentos. Segundo ele, a zona norte da cidade foi a mais atingida. Em todo o Estado do Rio, pelo menos 18 pessoas morreram em consequência da chuva nos últimos dias entre os dias 30 e 31 de dezembro de 2009.

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