Fonte G1 Bahia
“De noite, a gente via as labaredas de longe. Esse
prédio é parte da vida da gente. Faz parte da minha infância. Não era um
prédio comum. É uma perda histórica imensurável e muito significativa”.
O lamento é do administrador Marcelo Maia, 40, morador do Engenho Velho de Brotas. O prédio que, nas palavras dele, não é comum, é o Solar Boa Vista, imóvel que abrigava a sede principal da Secretaria Municipal da Educação e que teve cerca de 50% de sua estrutura destruída pelo fogo entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem.
O imóvel, cujo primeiro registro data do ano de 1799, sob a propriedade do mercador de escravos Manoel José Machado, foi construído com dois elementos marcantes da arquitetura baiana da época: o mirante e o pátio interno. Na avaliação do arquiteto e historiador Francisco Senna, a perda é “irreparável”.
“É um dos solares mais importantes da cidade. Na região em que ele fica, é um exemplar único. Não faz parte de um conjunto. Ele reina absoluto”, define Senna.
Tombado desde 1941 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o solar sempre teve papel destacado na história social e cultural da Bahia.
O lamento é do administrador Marcelo Maia, 40, morador do Engenho Velho de Brotas. O prédio que, nas palavras dele, não é comum, é o Solar Boa Vista, imóvel que abrigava a sede principal da Secretaria Municipal da Educação e que teve cerca de 50% de sua estrutura destruída pelo fogo entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem.
O imóvel, cujo primeiro registro data do ano de 1799, sob a propriedade do mercador de escravos Manoel José Machado, foi construído com dois elementos marcantes da arquitetura baiana da época: o mirante e o pátio interno. Na avaliação do arquiteto e historiador Francisco Senna, a perda é “irreparável”.
“É um dos solares mais importantes da cidade. Na região em que ele fica, é um exemplar único. Não faz parte de um conjunto. Ele reina absoluto”, define Senna.
Tombado desde 1941 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o solar sempre teve papel destacado na história social e cultural da Bahia.
Torre principal com arquitetura do século XVIII e estrutura interna do imóvel foram destruídas pelas chamas
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Em 1858, foi comprado por Antônio José Alves, pai do poeta Castro Alves, que ali viveu. “Dr. Antônio gastou uma fortuna nele (no solar), visando transformá-lo em uma casa de saúde”, conta o pesquisador, que é especialista em Conservação e Restauro de Monumentos e Conjuntos Históricos.
O casarão foi comprado pelo governo em 1869 e adaptado para virar um hospital, inaugurado em 1873 com o nome de São João de Deus, o primeiro hospício de Salvador.
Em 1935, passou a se chamar Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em referência ao baiano que foi pioneiro da moderna psiquiatria no Brasil. Já em 1982, o prédio virou sede da prefeitura de Salvador, que ficou ali até 1985. A Secretaria da Educação ocupou o espaço em 2003.
“Esse edifício esteve presente em metade da história de Salvador. É um bem público em um bairro (Brotas) que não tem praças. Era o único espaço urbano livre e arborizado para reunir a comunidade”, diz Francisco Senna.
PatrimônioSegundo o historiador, o solar estava em boas condições. “Tinha uma torre com relógio, assoalho de madeira e uma capela muito interessante, com uma porta em cantaria de pedra lavada”. A capela ficava numa lateral. Na outra, havia uma imponente escadaria, construída no século XIX. “Tinha um lance central e dois lances curvos. Era monumental, dava uma imponência ao hall de entrada”, lembrou Senna.
Para ele, resta o lamento. “Esse prédio dificilmente voltará a ser o que foi, porque sua autenticidade foi perdida. Por melhor que seja a restauração, não vai reconstruir a história. Estamos sendo testemunhas de sucessivas perdas e a gente continua sem ver um cuidado maior do patrimônio histórico e arquitetônico”.
MedidasÀs 9h de ontem, enquanto bombeiros ainda combatiam o fogo, o prefeito ACM Neto chegou ao solar após se reunir com os secretários municipais da Educação, João Carlos Bacelar, e de Infraestrutura, Paulo Fontana.
Segundo Neto, o funcionamento da secretaria e o cronograma de matrícula da rede municipal não serão afetados. “Na segunda-feira, o processo de matrícula continua e teremos os quase 200 funcionários acomodados. Não muda nada no calendário”, disse. Ainda de acordo com Neto, todos os documentos relativos à execução orçamentária de 2011 estão preservados, num dos anexos da secretaria.
Com relação aos documentos do ano passado, cerca de 50% também estão em segurança. O prefeito destacou também que documentos referentes a licitações e à vida funcional dos servidores estão preservados.
No caso de processos recentes perdidos, como solicitação de aposentadorias, a secretaria montou uma equipe para atender a esses servidores. “Vamos recuperar o que perdemos. Faremos um esforço junto ao Tribunal de Contas, Ministério Público e órgãos municipais”, disse Neto.
Quem também esteve no local na manhã de ontem foi o governador Jaques Wagner. Ele lembrou que o imóvel, pertencente ao governo do estado, está segurado e será restaurado de acordo com as normas do Iphan.
Questionado sobre a possibilidade da Secretaria Municipal da Educação ser mantida no imóvel, Wagner não colocou impedimentos. “Embora o prédio seja do Estado, não há nenhuma intenção de modificar essa funcionalidade”.
O autônomo Robson Souza, 55, que há 42 anos mora perto do solar, acompanhou a ação dos bombeiros na noite de quinta e ontem, lembrando de tudo que já viu no espaço.
“Eu vi quando o Juliano Moreira saiu daqui. Depois foi a prefeitura. Era tudo muito bonito. Tinha uma praça, fonte luminosa. Aqui tinha um campo na época do Juliano Moreira que a gente batia o baba. Os casais namoravam. Isso aqui deveria ser um local de visitação”, sugeriu.
Prefeitura cria gabinete de crise para acomodar servidoresDepois do incêndio que atingiu a sede principal da Secretaria Municipal da Educação, o prefeito ACM Neto anunciou a criação de um gabinete de crise com três setores. O primeiro é responsável pela infraestrutura, devendo providenciar espaço para acomodar os cerca de 200 servidores que trabalhavam no prédio incendiado.
“Vamos ajustar os servidores nos três anexos da secretaria e outra parte será acomodada no prédio da Pituba onde funciona o Centro de Treinamento Pedagógico”, disse o prefeito.
A primeira etapa de relocação dos servidores vai
durar entre 60 e 90 dias. A segunda frente vai mapear a documentação
perdida com o fogo, enquanto a terceira tem a tarefa de realizar a
comunicação com servidores afetados. Neto disse ainda que pediu aos
secretários de Educação e Infraestrutura que levantem possibilidades e
orçamentos para definir a questão do espaço, a médio prazo.
Pode ser feita a reforma de um prédio da prefeitura ou uma nova sede pode ser construída. Sobre um eventual retorno ao Solar, no caso de ele ser restaurado, ACM Neto disse que vai aguardar a perícia.
Pode ser feita a reforma de um prédio da prefeitura ou uma nova sede pode ser construída. Sobre um eventual retorno ao Solar, no caso de ele ser restaurado, ACM Neto disse que vai aguardar a perícia.
Bombeiros passaram a sexta-feira (5) fazendo rescaldo do incêndio
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Previsão é de que perícia seja realizada hoje no Solar Boa Vista
Como os bombeiros passaram o dia ontem realizando o rescaldo do incêndio, os peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) não puderam entrar no prédio para realizar a perícia e poder apontar o que deu início ao incêndio.
“Os peritos não conseguiram entrar por causa do nível de calor e os focos resistentes. A previsão é que a perícia seja feita amanhã (hoje)”, disse o secretário municipal de Infraestrutura, Paulo Fontana.
A investigação do caso está sob a responsabilidade da 6 ª Delegacia. “Ouvimos mais de dez funcionários, os vigilantes que estavam quando o incêndio teve início. Por enquanto, não temos hipótese do que pode ter acontecido. Temos que ver a perícia”, disse a titular da unidade policial, delegada Maria Dail.
Ao todo, 25 bombeiros participaram da ação de combate às chamas, contando com três veículos. Somente entre a noite de quinta e a madrugada de ontem, mais de 40 mil litros de água foram utilizados no trabalho de contenção das chamas.
Entrevista / secretário João Carlos Bacelar
Secretário diz que vai criar sala-cofre para backup
Que tipo de documento ficava na parte atingida pelo fogo?
Documentos para despacho final, para exame da Procuradoria-Geral e documentos orçamentários e financeiros. Era o coração da secretaria.
Depois do incêndio, quais medidas poderão ser adotadas para evitar novas perdas?
O prefeito determinou que a Secretaria de Educação criasse uma sala-cofre, onde todos os backups ficarão preservados.
Só o laudo poderá confirmar a causa do incêndio, mas o senhor tem alguma suspeita?
Não. Eu sou uma pessoa que pensa sempre positivamente. Acredito que foi um acidente.
Vereadores da oposição levantaram suspeitas de que pode ter sido um ato criminoso.
Só se eles tiveram alguma informação privilegiada. Eu acho isso um desserviço para este momento.