Fonte IBahia
O bloco desfila no domingo com a participação de 300 índios de 20 diferentes aldeias; também se prepara para um projeto de revitalização, que inclui reforma da sede e um documentário.
bloco a colocar sonorização, a sair com serviço de enfermagem, de bar, carro de apoio e música própria... O bloco de índios Apaxes do Tororó, fundado em 1968 - pelos integrantes da Escola de Samba Filhos do Tororó -, teve momentos de auge nas décadas de 60 e 70, mas também foi perseguido e tido como um grupo de marginais, mas sobreviveu, criou sua história e, neste Carnaval, comemora seus 45 anos de trajetória.
"Passamos por muitas agruras, dificuldades e fomos perseguidos por tudo e por todos. Na década de 70, durante a ditadura, nenhum bloco sofreu o que o Apaxes sofreu, de ser desmoralizado em plena avenida no ano de 1977, quando a Polícia batia e prendia todos os negros índios metropolitanos. O Apaxes completava nove anos e, no ano seguinte, saimos com batedor americano. A partir daí o Apaxes vem lutando e representando a resistência do Carnaval da Bahia. Nenhum bloco passou o que o Apaxes passou, de sair em um ano com 8.445 pessoas e, no ano seguinte, só ter mil pessoas participando do seu Carnaval, era um dos maiores blocos da época", relembra Adelmo Costa, atual presidente da agremiação.
A comemoração de toda essa história será vista pelo público no próximo domingo, a partir das 18h, no Circuito Osmar (Campo Grande), quando o bloco fará seu desfile. Muitas surpresas foram preparadas para este momento. Por enquanto, a entidade divulga alguns detalhes da festa. O bloco receberá 300 percussionistas, uma ala com 100 baianas e outra com 100 bailarinos. O desfile também contará com a participação de 300 índios de 20 aldeias, entre elas Kiriris e Kaimé, do norte do estado, e Pataxós, do sul da Bahia.“Eles já fazem parte da festa do bloco. Em 2014, estão vindo em maior quantidade por conta das comemorações dos 45 anos”, explica Adelmo Costa. Durante o Carnaval, todos ficarão alojados na sede do bloco. Lá também serão comercializados itens de produção das tribos, trazidos pelos índios de suas aldeias de origem.
"Passamos por muitas agruras, dificuldades e fomos perseguidos por tudo e por todos", diz Adelmo Costa, presidente
do bloco Apaxes do Tororó e um dos seus sambistas
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Ao longo de sua história, o Apaxes do Tororó sempre ganhou destaque por suas músicas, compostas por grandes compositores a exemplo de Nelson Rufino, Almir Ferreira, Celso Santana, Adelmo Costa, Arnaldo Neves e Jair Lima. Pelo bloco passaram Neguinho do Samba, membros do Olodum e do Araketu, além do cantor, compositor e percussionista Carlinhos Brown, com quem a entidade tem hoje uma parceria consolidada e com quem, neste Carnaval, desfilará com o Movimento Afródromo.
Foi Brown, por sinal, que sugeriu a mudança na grafia do nome do bloco de "Apaches" para "Apaxes", no ano de 1993, sob o argumento de que assim o nome ganharia múltiplas leituras e um contexto mais regional. A partir daí também a entidade passou a se voltar mais para a figura do índio brasileiro, traduzindo isso em suas músicas.
Revitalização
Além de estar junto com o Apaxes do Tororó, no Carnaval, o músico Carlinhos Brown tem atuado de maneira muito próxima no projeto de revitalização de todo o projeto que envolve o bloco, como movimento cultural. Isso inclui uma série de atividades, como a reforma completa da sede do bloco e a realização de um documentário sobre a história e a importância do Apaxes. O filme tem direção de Cecília Amado e já está em fase de produção. Muitas outras atividades são planejadas, em conjunto com a comunidade, para acontecer ao longo de 2014. O objetivo é movimentar o bloco para garantir sua atuação auto-sustentável, tanto econômica quanto culturalmente.
"O Apaxes do Tororó não tem 45 anos de Carnaval, tem 45 anos em cartaz, assim como 'Cats', como 'O Fantasma da Ópera' e muitos outros. E como comunidade, com todas as adversidades que enfrenta, está aqui. A afirmação do negro era ser índio e o O Apaxes antecedeu isso. Todo o movimento que acontecia no Garcia e no Tororó e o que mobilizou a cultura, teve a participação do Apaxes", afirma Carlinhos Brown. O músico baiano considera, ainda, que o "Apaxes foi a primeira grande explosão do carnaval da Bahia”.
Já o antropólogo Antônio Godi afirma que o bloco Apaxes se destacou no Carnaval de Salvador pela força cadenciada das suas músicas e violência dos seus desfiles. "Isso influenciou a criação de novos blocos de índios e fez do Apaxes a agremiação hegemônica da sua época” .
Por sua vez, o pesquisador Milton Moura destaca que sair em um bloco como o Apaxes sempre foi uma maneira de criar nas pessoas uma referência de identidade cultural. “Naquele momento, quem saía no Apaches ou no Cacique era, no Carnaval, apache ou cacique. Isto não quer dizer que aqueles jovens e adolescentes afrodescendentes moradores do Tororó, Garcia e outros bairros populares de Salvador se transformassem simplesmente nos guerreiros que habitavam até o início deste século os planaltos do centro dos Estados Unidos ou do litoral brasileiro. Quer dizer que, a partir de sua adesão, participação e identificação a tais blocos, esses jovens e adolescentes elaboravam o texto de sua identificação vigorosamente tensionado pela referência alegórica – fantástica e real – aquele acervo de representações iconográficas proporcionado pelo cinema e retrabalhado, ainda, pelo próprio bloco. O mesmo termo – o índio – religa o bloco aos adversários do exército yankee e ao apelido pejorativo com que os moradores dos bairros de classe média lhes davam, então”.