Pai de jovem sumido após ação da PM diz que corpo não é do filho dele

Fonte G1 Bahia

Jurandy, pai de Geovani, esteve no DPT nesta sexta-feira (15), para reconhecimento do corpo do filho (Foto: Cássia Bandeira/ G1)


Catorze dias após o sumiço do filho, que desapareceu após ter sido alvo de uma abordagem da polícia no dia 2 de agosto, Jurandy Silva de Santana, 40 anos, afirmou ao G1 na manhã deste sábado (16) que pretende entrar com pedido de proteção cautelar da pessoa que disponibilizou as imagens da câmera de segurança que flagrou a operação policial.
"Ele me ligou ontem, quando estava no Grupo Tortura Nunca Mais [no bairro dos Barris]. Ele está com medo. Ele se mudou e tirou a mãe de lá. Disse que estava observando carros passarem 'devagarinho' com pessoas olhando. Na segunda [18], nós vamos até o Ministério Público. Vamos conversar e pedir a proteção para ele", afirmou Jurandy.
Sobre a confirmação da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), em coletiva ocorrida na tarde de sexta-feira (15), de que uma das mãos encontradas no bairro de Campinas de Pirajá, em Salvador, é de Geovane Mascarenhas de Santana, de 22 anos, Jurandy Silva também afirmou na manhã deste sábado que ainda não foi procurado pelo órgão de segurança do estado para obter essas informações de modo oficial.
"Tudo o que sei até agora é por meio da imprensa. A minha vontade a ter acesso a essas partes do corpo para que eu possa enterrar o meu filho em Serra Preta (interior da Bahia). Somos todos de lá e a vontade do meu avô era de que toda todos os membros da família fossem enterrados lá quando morressem", revelou. 
O G1 tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) nesta manhã, mas não teve êxito. Os três policias investigados estão presos temporariamente no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas.
"Não tem tatuagem, o rosto do meu filho é pequeno e o que me mostraram é grande. Agora, no momento, não tem nada. O corpo reconhecido no dia 5 já foi enterrado. Todos que estão aí (IML) não são do meu filho". Essa foi a declaração do pai de Geovanne Mascarenhas de Santana, que desapareceu após abordagem policial em Salvador.
Jurandy Silva chegou ao Instituto Médico Legal (IML) no final da manhã desta sexta-feira (15) para reconhecimento do corpo do filho que, segundo a polícia, teria sido identificado na noite de quinta-feira (14). De acordo com Jurandy, o filho dele tinha uma tatuagem, que não foi verificada nas imagens do corpo mostrado na manhã desta sexta-feira. "Para mim, eu quero ver ele, o pé, a mão. Tendo o corpo eu vou enterrar ele e viver minha vida, não tendo, vou continuar procurando", relata o pai de Geovanne.
Segundo informações da assessoria do DPT, foram mostradas imagens do corpo encontrado pela polícia e não foi feito o reconhecimento visual pelo pai do jovem no final da manhã desta sexta-feira. Os policiais envolvidos no caso estão sendo ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Salvador.
Corpo identificado, diz PM
O corpo do jovem Geovanne Mascarenhas de Santana, que estava desaparecido há 13 dias após abordagem policial no bairro da Calçada, em Salvador, foi identificado na noite de quinta-feira. A informação foi confirmada pelo coronel Alfredo Castro com base na perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) com as digitais das mãos encontradas próximas ao corpo.
Em entrevista ao G1 na manhã desta sexta-feira (15), o coronel Alfredo Castro informou que o corpo foi encontrado no dia 5 de agosto, no Parque São Bartolomeu, que fica no bairro de Pirajá. O corpo foi localizado decapitado, sem as mãos e carbonizado. Segundo ele, a identificação só ocorreu na quinta-feira por causa do estado de decomposição. Ainda de acordo com Alfredo Castro, na madrugada desta sexta-feira foi solicitada a prisão dos PMs envolvidos na abordagem do jovem.
"A perícia constatou que o corpo era do jovem desaparecido. A mão e a cabeça estavam na mesma região onde foi localizado o corpo", afirma o coronel Alfredo Castro. Na tarde desta sexta-feira, às 15h, o secretário de Segurança Pública vai realizar uma coletiva sobre o caso, segundo informou o coronel. Inicialmente ele havia informado que o corpo teria sido encontrado na noite de quinta-feira, mas a informação foi retificada por Alfredo Castro por volta das 10h05.
Caso
Geovanne Mascarenhas desapareceu após abordagem da PM (Foto: Imagens/TV Bahia)  

Geovane Mascarenhas de Santana desapareceu após a ação policial no dia 02 de agosto. Toda a ação foi registrada por câmeras de segurança de um prédio do local da abrodagem. Segundo a PM, a abordagem policial teria sido solicitada por um telefonema feito à Central de Polícia e que, em depoimento, os policiais disseram que Geovane foi levado à delegacia do bairro da Lapinha e liberado em seguida, com a moto.
Em depoimento, os PMs disseram que liberaram o rapaz após a fiscalização, em Salvador. A informação foi passada pelo diretor de comunicação da Polícia Militar, Coronel Gilson Santiago. Entretanto o setor não esclareceu em que local ele foi deixado e também não disse onde está a moto do rapaz. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa. O prazo para a conclusão do inquérito é de 40 dias.
Segundo  o diretor de comunicação da PM, os policias envolvidos no caso são experientes e o comandante da guarnição é um subtenente com mais de 20 anos de serviço, entretanto reconheceu que a conduta deles fugiu aos padrões de comportamento definidos pela Polícia Militar.
Desespero da família
O pai de Geovane, Jurandy, começou a procura pelo filho na Central de Flagrantes nos Barris, para onde, segundo orientação da Polícia Civil, devem ser levadas pessoas detidas cometendo crimes em salvador.
Em seguida, Jurandy foi até a 2ª delegacia, no bairro da Lapinha - responsável pelas ocorrências do local onde Geovane desapareceu. Também não havia registro de entrada do rapaz.
As buscas continuaram nas delegacias de Periperi e da Boca do Rio. O pai de Geovane também foi à Delegacia de Repressão a Furtos e roubos de veículos, para tentar alguma pista sobre a moto que pertence ao rapaz. Nada foi encontrado.
Seu Jurandir esteve ainda na 37ª Companhia Independente, na Liberdade, na Delegacia de Simões Filho, e nos batalhões da Rondesp de Simões Filho e do bairro do Lobato, em Salvador. Ele não conseguiu nenhuma resposta sobre o paradeiro de Geovane.
Jurandy informou que denunciou o caso ao Ministério Público, no fim da tarde de quinta-feira (14). Jurandy conta que Geovane tem duas passagens na polícia por roubos cometidos em 2011, mas respondeu pelos crimes. O pai afirma que o rapaz estava trabalhando e não tinha qualquer problema com a Justiça.