Fonte iBahia
Entre as Igrejas Basílicas de Nossa Senhora da Conceição da Praia e do
Santuário Senhor do Bonfim, em Salvador, pessoas vestidas de cor branca caminham 8 km. Lado a lado, devotos do catolicismo e do
candomblé vão às ruas, na manhã desta quinta-feira 14/01/2016, celebrar ao
Senhor do Bonfim e a Oxalá.
“A Lavagem do Bonfim é um momento de integração entre diversas
religiões, devotos, turistas e políticos. Na verdade, é um grande
encontro. Em um momento de terrorismo, em que a religião é usada como
instrumento que contribui para a violência, estamos aqui dando uma lição
ao mundo”, resume o padre Edson Menezes, reitor da Igreja do Bonfim,
sobre o sincretismo que envolve a festa.
Segundo pesquisas, “Oxalá é o filho mais velho
de Olorum [Divino Criador], aquele que habita o céu. Dentro da proposta
espiritualista, entendemos que o Senhor do Bonfim é o filho de Oxalá”,
detalha. Para os católicos, o Nosso Senhor do Bonfim é a representação
do Cristo Crucificado.
Historicamente, a fé do povo de santo e dos católicos se entrelaça.
Leite detalha que um dos símbolos desse cruzamento entre as religiões
está nas vestimentas brancas usadas pelos fiéis. “Oxalá é o Senhor do
Pano Branco”, explica sobre a absorção do ritual na festa católica. “A
grande importância vem aí. A cultura negra foi associada à Lavagem do
Bonfim”, complementa.
o sincretismo entre as religiões, inclusive, foi responsável por
eleger um novo padroeiro para a capital baiana. “São Francisco de Xavier
é o padroeiro de Salvador, mas todo mundo jura de pé santo que é o
Senhor do Bonfim. E o que é a voz do povo?”, brinca.
Para o padre Edson Menezes, reitor da Igreja do Bonfim, o encontro
entre as religiões nos festejos da Lavagem do Bonfim é visto com
respeito pela Igreja Católica. “Como nós sabemos, o sincretismo resultou
de um momento histórico de colonização. Encaramos isso com respeito e
consideração. Achamos que é algo próprio da cultura que deve ser
valorizado e reconhecido”, afirma.
A festa do Senhor do Bonfim ocorre desde 1750, incorporando em sua
trajetória religiosidade e características profanas. Informações da
Secretaria de Turismo apontam que a tradição da lavagem começou com os
escravos, quando eles preparavam o templo para o domingo festivo.
Mulheres vestidas com trajes brancos e de torços na cabeça colhiam água
em uma fonte do bairro do Bonfim, que era levada à Colina Sagrada em
lombo de burro. Durante o trabalho, cantava-se e dançava-se. Desde
então, as homenagens acontecem sempre no segundo domingo após o dia 6 de
janeiro, data em que a Igreja celebra a Festa de Reis.
“A Lavagem do Bonfim tem conotação religiosa e profana. Está presente
ali a religiosidade popular e piedade. Consideramos um grande evento de
fé e esperança”, atesta o padre Edson Menezes.