Fonte iBahia
aos 50 anos e se depara com o final de uma carreira
em uma empresa qualquer. Você não é concursado, não tem direito, nem ao
emprego e nem ao pecúlio perpétuo. Sua visão nubla, você se vê sem
perspectivas, velho e acabado. E agora, começar do zero novamente? Cadê a
disposição? Já dei o que tinha que dar. Quem sabe uma carrocinha de
cachorro quente, que se popularizou como hot-dog - cá eu, por mim,
prefiro cachorro quente mesmo. Se a carreira na grande ou média empresa
acabou e você não é um médico renomado, um cabeleireiro famoso - sim,
porque mexer em cabelo dá mais dinheiro do que ser médico - ou um
profissional reconhecido em alguma área... o que fazer ? Pode ser 50, 60 ou até mais, você pensa, se tenho saúde, e reservas, o que posso fazer daqui para a frente ?
De
fato, e para tanto basta analisar a pirâmide etária, já não é possível
contar com a aposentadoria certa aos 50, ou 60 anos de idade, tal e qual
ocorria há uma década atrás. Ao ultrapassar a barreira dos 50 anos o
profissional já começava a contagem regressiva para a aposentadoria, de
preferência ainda antes dos 60 anos, e já deveria começar a se comportar
como tal.
No entanto, a evolução da pirâmide etária brasileira
vem demonstrando, graficamente, que a velhice, tal como a conhecíamos,
vem sendo redefinida paulatinamente. Se antes fazia sentido planejar uma
aposentadoria aos 55, visto que dificilmente se chegaria aos 70, era
perfeitamente natural planejar os anos que lhe restariam consumindo
parte da poupança e contando com o provento e, talvez, alguma ajuda dos
filhos. Com a fronteira do envelhecimento se expandindo, para muitos é
comum chegar aos 70 anos com saúde ainda para trabalhar, nem sempre full
time, é verdade, mas com capacidade para desempenhar extensas tarefas
de forma bastante efetiva.
No Brasil, infelizmente, foi definido
por lei um conceito de idoso aos 65 anos. Se é verdade que para uma
parcela significativa da população chegar nesta idade já é sinônimo de
debilidade física, para muitos outros nota-se o oposto. A questão mais
visível é que o que separa uns de outros a partir de certa idade são as
condições físicas e de saúde, muito mais do que a idade cronológica.
Então, é perfeitamente possível imaginar que se chegamos aos 60 anos
ainda é possível pensar em mercado de trabalho por mais 10 ou 15 anos.
Talvez
por isto os seniores, aqueles que chegaram aos 60 anos, começam a se
deparar com uma situação inusitada. Não são mais os jovens de outrora,
mas também não correspondem exatamente ao estereótipo de idosos. Nesta
altura da vida, e um pouco antes até, a matemática da vida mudou. A
expectativa de vida do brasileiro, segundo o IBGE, teve a sua fronteira
novamente revisada, para 74,6 anos. E não vai parar por aí, pois na
Inglaterra já ultrapassou os 80 anos, o que também superaremos mais à
frente. Seria, portanto, mais cauteloso contar com uma expectativa de
vida de 80 anos.
Evidentemente, não seria muito recomendável
trabalhar com uma britadeira ou com pá e picareta após esta idade, mas é
possível sim vislumbrar novas carreiras após esta idade, principalmente
para quem não possui um escritório ou consultório estabelecido. Quais
seriam essas opções?
As
opções podem estar justamente na juventude, algo que muitas pessoas
mais velhas não vêm ou até mesmo receiam, que é buscar a fonte da
inspiração na juventude. Um dos maiores mercados e que mais se abre no
mundo é de tutores. É aquela classe de profissionais que, se não vai
adentrar uma sala de aula, irá dispender o seu tempo ajudando alguns
jovens, ou crianças até, a suplantar as deficiências. Se há algo que as
pessoas de mais idade possuem é o patrimônio do conhecimento. Qualquer
conhecimento pode ser aprimorado e transmitido, virar um negócio até. É
também verdade que uma pessoa de mais idade em geral não terá mais o
"pique" para aguentar a rotina de competitividade e cobrança de uma
empresa. Pressões que os mais jovens estarão mais aptos a suportar. Por
outro lado, os mais velhos podem ensinar os mais novos a superar as
dificuldades. O grande mercado que se abre hoje, de fato, é o da
tutoria. Esqueça a "carteira assinada". Se você já se aposentou ou está
próximo de se aposentar, a carteira assinada perde o seu sentido.
Torne-se senhor de si próprio e mentor dos demais.
Que tipos de
ensinamentos podem ser passados? Ora, tudo. Ensinar a cantar, por
exemplo, ou como escrever uma redação, conceitos de matemática e lógica
ou programação, ou ainda como desenhar, pintar, esculpir ou cozinhar.
Tudo mundo tem alguma habilidade dentro de si. Pode ser uma língua
estrangeira. A questão não é mais, portanto, de "arrumar um emprego"
depois dos 50/60, mas como estruturar um negócio onde você poderá ser o
mentor de outros. Depois de uma certa idade, espera-se, você já deverá
ter cumprido a pesada missão de criar os filhos e de adquirir a sua
própria casa. Com a renda da aposentadoria no horizonte, o trabalho
passa a ser complementação de renda. Devemos, então, pensar na
aposentadoria como um complemento de renda, e não como "a renda".
Novamente a matemática nos diz que com o aumento da expectativa de vida
ficará cada vez mais difícil para o governo cobrir o custo das
aposentadorias.
Tentar aumentar a aposentadoria por decreto, na
marra, até pode ser uma "conquista". Porém, em uma sociedade onde as
demandas crescem e o governo pouco contribui para o ambiente de
negócios, é certo que a volta do sinistro dragão da inflação ocorrerá em
algum momento, diminuindo a renda de todos, sobretudo dos aposentados.
Por outro lado, se mantivermos nossa capacidade criativa e laboriosa
ativa pelo maior tempo possível, estaremos sempre seguros de que
poderemos manter uma renda compatível, mesmo que a pensão seja corroída.
Afinal, ninguém deseja morrer antes da hora devido à sua própria
inviabilidade econômico-financeira. Dito isto, devemos crer que os
sessenta anos devem marcar para muitos a entrada na idade dos seniores. A
idade em que você, muito provavelmente, terá que se tornar empresário.
Mas essa não é a única alternativa. Acompanhe nossa coluna na semana que vem e falaremos sobre outras possibilidades.