Fonte: texto Sheila Finger psicóloga, psicanalista
Desafios da Pós-Modernidade
O ato de se tornar mãe revoluciona não apenas a vida da mulher que optou por dar à luz, mas todo o esquema familiar e profissional a que ela pertence. Principalmente neste momento histórico em que as mulheres se capacitam para ter um papel no mundo social, desenvolvem competências profissionais e adquirem independência econômica antes do casamento, a maternidade rompe com a construção da identidade profissional e social.
Nestes novos tempos é possível escolher quê estilo de vida queremos ter, os papéis que queremos exercer, e que atividades queremos desenvolver. Todavia, a possibilidade de tantas escolhas e opções não necessariamente torna a nossa vida mais fácil… Mulheres podem trabalhar fora, podem construir uma carreira, podem obter satisfação na vida profissional; mas como combinar casa e trabalho? Como combinar satisfação profissional com satisfação familiar e pessoal? Onde está o equilíbrio? Quais as novas possibilidades, e quais os limites para a mulher de hoje?
No desafio da vida moderna, esta mulher precisa conciliar as suas aspirações maternais a toda uma gama de obrigações pessoais e profissionais. Sem uma administração eficiente, esta situação múltipla acaba por gerar conflito, desgaste e estresse.
Em resumo, a era pós-moderna é uma época de liberdade e responsabilidade, de novas possibilidades e novos desafios. E para mães e pais, é tempo de se reinventar – pois somos nós, pais e mães de hoje, que estamos galgando os caminhos pelos quais passarão nossos filhos e netos; cabe a nós contribuir para um futuro de possibilidades mais amplas porém possíveis. Portanto, a pós-modernidade é marcada pela confluência entre tudo o que se tornou possível, e a falta de definições claras. Ou, dito de outra forma, tudo hoje é uma questão de escolhas; esse é o desafio, mas também a maravilha para os pais de hoje!
Imagem do Google
Família Pós-Moderna:
A familia pós-moderna não nasceu assim; há um contexto, uma história. É importante entender como chegamos até aqui, para visualizar para onde queremos e podemos ir.
Antigamente ser mãe era “natural”, ou seja, a maternidade era vista como a principal função e identidade a ser almejada pelas mulheres. Porém, em nossa era pós-feminista, ter uma carreira ou atividade passou a ser esperado das mulheres e pelas mulheres. Enquanto as expectativas da sociedade em relação às mulheres mudaram, o suporte que a mulher recebe – seja do marido ou da família, e de modo geral da sociedade – seguramente não acompanhou esta evolução das expectativas do papel da mulher.
Antigamente ser mãe era “natural”, ou seja, a maternidade era vista como a principal função e identidade a ser almejada pelas mulheres. Porém, em nossa era pós-feminista, ter uma carreira ou atividade passou a ser esperado das mulheres e pelas mulheres. Enquanto as expectativas da sociedade em relação às mulheres mudaram, o suporte que a mulher recebe – seja do marido ou da família, e de modo geral da sociedade – seguramente não acompanhou esta evolução das expectativas do papel da mulher.
A modernidade já se vai no tempo, época em que as mulheres descobriram a possibilidade de se igualar ao homem, de buscar realizações para além das atividades domésticas e familiares. O movimento feminista possibilitou muitas aberturas para as mulheres, e até hoje ainda estamos reinventado a educação dos filhos. Muitas são as equações que integram o cotidiano dos pais de hoje – múltiplas funções, imposição social quanto a carreira ou atividade profissional, conhecimento sobre teorias e técnicas de educação, e assim por diante.
Hoje espera-se da mulher que se realize dentro e fora de casa, que seja uma mãe presente, competente, educadora e eficaz, mas que também se preocupe com sua identidade pessoal, que se cuide, que esteja bem resolvida, que ganhe dinheiro e contribua com as finanças de casa, etc. Nossa geração foi educada para pensar e almejar uma carreira profissional ou uma atividade gratificante. E para a maior parte das mulheres, ser mãe e formar uma família segue sendo uma prioridade. Para o pai de hoje também houveram mudanças em relação à possibilidade de participar presente e ativamente na educação dos filhos e na vida familiar.
Concluimos portanto que a mulher saiu de casa e multiplicou seus papéis, enquanto o homem se interessou mais pela educação dos filhos; mais ainda, através da pediatria, psicologia, psicanálise e teorias do desenvolvimento, as crianças também passaram a ter uma nova importância familiar e social, e passaram a receber um olhar mais cuidadoso. Portanto enquanto os papéis dos pais se multiplicaram dentro e fora de casa, criou-se uma nova e maior demanda para se olhar, entender, educar e se relacionar com os filhos. A questão é que enquanto existem agora mais opções e mais informações em como se educar e criar os filhos, dadas as demandas mais exigentes, existem poucos modelos prontos. Hoje, os filhos vem se transformando no maior projeto de vida dos pais e de quem os rodeia, e aí mora o perigo do “filhocentrismo”.
Por outro lado, com a diminuição da influência da comunidade para com cada família, aumentou a importância dos pais e educadores diretos enquanto modelos – de estar no mundo, de se relacionar com outras pessoas e com o ambiente, de se relacionar com a busca de conhecimento e de informações, com a aprendizagem e o processo civilizatório. São os pais de hoje (e/ou aqueles que exercem as funções maternas e paternas para as crianças) os principais modelos de pessoa para os filhos; é quem os ensina como ser e buscar o que almejam, a desenvolver os próprios talentos e aspirações, e a encarar seus desafios e obstáculos.
O desenvolvimento e a manutenção da dimensão pessoal de cada mãe e pai é fundamental tanto para a própria saúde mental e integridade emocional, quanto enquanto modelo de pessoa para os próprios filhos. Ensiná-los por modelo como ser e buscar o que almejarem, desenvolvendo seus próprios talentos e aspirações, encarando seus desafios sem se deixar abater, todos esses são ensinamentos que influenciam na formação dos filhos. Estar presente e disponível é fundamental. Mas ter momentos de ausências para se buscar realizar os próprios projetos pessoais e/ou profissionais – dadas as condições apropriadas para que as crianças estejam sendo bem cuidadas e assessoradas – é também fundamental.
Como Lidar com essa nova realidade
Propomos a seguir algumas estratégias possíveis para auxiliar os pais neste processo de educar, que requer estar ativamente envolvido, sem perder de vista a preocupação consigo próprio, enquanto pessoa, e enquanto MODELO de pessoa para os filhos:
1) Olhar Bi-Focal - presente versus futuro: manter um olhar, uma perspectiva bi-focal, onde ora privilegia-se o presente, o aqui-e-agora, ora privilegia-se o futuro, o que virá, o que será.
2) Combinação de recursos: é preciso compreender e aceitar que para cada família haverá uma combinação possível e específica. O que é possível e desejável para alguns não o é para outros. Não existem fórmulas mágicas: para se alcançar uma combinação eficaz há que se levar em conta o contexto e os recursos de cada mãe, pai, da família, de cada sistema.
3) “Vida-bilidade”: criamos o conceito de “vida-bilidade”, ou seja, de pensar a viabilidade da vida de cada um ou grupo. Trata-se portanto de buscar maneiras de tornar a vida mais viável para si e para a família, incorporando os valores, os projetos, as aspirações, assim como a realidade e as limitações pessoais e familiares; enfim, maneiras de tornar sua vida mais viável, dentro da realidade de sua realidade. Para se criar vida-bilidade, algumas premissas se fazem necessárias, como: manter expectativas realistas; ser flexível e criativo; saber priorizar tarefas, interesses e objetivos; utilizar ajuda (delegar, sabendo identificar o quê e a quem); aprender a organizar e administrar as várias funções e os vários papéis; manter constante reavaliação do processo sobre o que está e o que não está funcionando; se divertir. Em suma, lembrar que sempre existe um leque de opções; portanto dentre este leque, tentar eleger o que poderá promover maior vida-bilidade.
Propomos a seguir algumas estratégias possíveis para auxiliar os pais neste processo de educar, que requer estar ativamente envolvido, sem perder de vista a preocupação consigo próprio, enquanto pessoa, e enquanto MODELO de pessoa para os filhos:
1) Olhar Bi-Focal - presente versus futuro: manter um olhar, uma perspectiva bi-focal, onde ora privilegia-se o presente, o aqui-e-agora, ora privilegia-se o futuro, o que virá, o que será.
2) Combinação de recursos: é preciso compreender e aceitar que para cada família haverá uma combinação possível e específica. O que é possível e desejável para alguns não o é para outros. Não existem fórmulas mágicas: para se alcançar uma combinação eficaz há que se levar em conta o contexto e os recursos de cada mãe, pai, da família, de cada sistema.
3) “Vida-bilidade”: criamos o conceito de “vida-bilidade”, ou seja, de pensar a viabilidade da vida de cada um ou grupo. Trata-se portanto de buscar maneiras de tornar a vida mais viável para si e para a família, incorporando os valores, os projetos, as aspirações, assim como a realidade e as limitações pessoais e familiares; enfim, maneiras de tornar sua vida mais viável, dentro da realidade de sua realidade. Para se criar vida-bilidade, algumas premissas se fazem necessárias, como: manter expectativas realistas; ser flexível e criativo; saber priorizar tarefas, interesses e objetivos; utilizar ajuda (delegar, sabendo identificar o quê e a quem); aprender a organizar e administrar as várias funções e os vários papéis; manter constante reavaliação do processo sobre o que está e o que não está funcionando; se divertir. Em suma, lembrar que sempre existe um leque de opções; portanto dentre este leque, tentar eleger o que poderá promover maior vida-bilidade.
Reflexões finais
Na experiência pós-maternidade, passa a ser imprescindível reorganizar o novo cotidiano, pois assim como outras experiências, a maternidade nos desorganiza e nos pressiona a rever nossos valores, princípios, e até mesmo aspectos que pensávamos “resolvidos” de nossa identidade. Todavia, faz-se importante lembrar que crise também oferece oportunidade, portanto, pode-se, deve-se tomar essa desorganização como uma grande oportunidade de melhorar. Ou seja, se é verdade que mudanças causam angústia, também trazem liberdade, e são portanto ótimas oportunidades de crescer, de se re-inventar, e de se superar!
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