Fechamento do Hospital Aristides Maltez - SSa

Fonte G1
Hospital Aristides Maltez manterá atividades com contrato provisório. Proposta foi aceita nesta segunda pela Liga Baiana Contra o Câncer. Hospital corria risco de fechar até o fim do mês por falta de recursos.
A assessoria do Hospital Aristides Maltez, único especializado em tratamento de câncer pelo SUS na Bahia e que corria risco de fechar por falta de recursos municipais, informou nesta segunda-feira 05/03/2012 que a Liga Bahiana Contra o Câncer, que administra a unidade de saúde, aceitou a proposta feita pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
De acordo com a assessoria do hospital, a negociação envolve um contrato provisório de três meses, em que a prefeitura de Salvador vai pagar três parcelas de R$ 530 mil referentes a 2010. O valor manterá o hospital funcionando enquanto a negociação com o Ministério da Saúde é feita para que haja um repasse maior de verba para a SMS, que retransmitirá para a unidade hospitalar.
O Hospital Aristides Maltez pode ser adequado à Portaria 3.024, do Ministério da Saúde (MS), que prevê incremento de 20% no orçamento para os hospitais filantrópicos que atendem exclusivamente pelo serviço público.

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Reunião
Segundo a assessoria da prefeitura de Salvador, está prevista para a próxima quarta-feira 07/03/2012 uma audiência com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Brasília, para tentar solucionar o problema do teto de repasse para a unidade de saúde, que atualmente é de R$ 5,7 milhões.

Risco de fechar
A crise foi gerada depois que a Liga Bahiana Contra o Câncer se recusou a assinar novo contrato proposto pela secretaria. "Além de [o contrato] não citar as dívidas já pendentes, ele prevê uma verba mensal de cerca de R$ 6,294 milhões, quando nós precisamos de R$ 7,600 milhões para manter o hospital funcionando", diz o diretor Aristides Maltez Filho. O custo adicional é decorrente da demanda crescente atendida pelo hospital e que tem sido rebatido pela secretaria. "Sim, temos mais pacientes todos os dias, meses, anos. Mas eu vou negar o tratamento a uma vítima do câncer que chegar em nosso hospital? Vou devolver ele para onde?", questiona Maltez.
Por outro lado, a secretaria pontua que a quantidade atual de pacientes não está prevista em contrato, o que Gilberto José chama de "extra-teto", em termos orçamentários. "Sabemos e temos a sensibilidade para entender que não se deve negar atendimento a nenhum paciente, mas nós temos uma verba para repassar que, se o número de pacientes aumenta, nós não teremos dinheiro para suprir", avalia.
O Hospital Aristides Maltez fez 9,5 mil cirurgias em 2011, atendeu a 11.400 mil pessoas, com 169 mil aplicações de radioterapia, em 21.200 mil ciclos de quimioterapia. Trabalham no local 143 médicos e outros 943 funcionários. Os dados são da administração da instituição filantrópica, que é financiada com verbas federais, municipais e por doações de voluntários.


Direito à saúde
Para o advogado e diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Celso Castro, o direito à saúde, como direito fundamental e princípio constitucional, é soberano a qualquer ditame orçamentário. "É direito do cidadão a saúde e é dever do estado protegê-lo. As decisões judiciais têm considerado a questão da saúde independentemente da disponibilidade de verba, inclusive da Lei de Responsabilidade Fiscal, porque ela está abaixo da Constituição", afirma o professor.

Nesse sentido, Celso Castro adiciona que infrigir o que prevê a Constituição é violar o direito à vida. "Há uma escala de direitos e valores na Constituição, entre os quais, o mais importante é a vida. Não há nenhuma lei ou orçamento que se sobreponha. Meio sacárstico, falo que, se já há verba para a Copa do Mundo, como não haver para a saúde? O problema é que, no Brasil, a Constituição nunca se cumpre, lei fundamental raramente", explica.

Dívidas
Os R$ 13 milhões em dívidas seriam aplicados na manutenção mensal da unidade. Do total, cerca de R$ 2,395 milhões já possuem fatura impressa e aguarda o pagamento. "A secretaria admite que a fatura está na mesa do secretário, mas, segundo eles, não podem pagar. Se pelo menos essa dívida dos R$ 2 milhões não for sanada em até 30 dias, nós não teremos condições de manter esta unidade funcionando e fecharemos as portas", diz Maltez.

José afirma que o problema que o Aristides Maltez enfrenta hoje não é restrito a uma unidade, mas a todo o sistema público de saúde da capital. "Desde 2010 que nós tentamos juntamente ao Ministério da Saúde o aumento do teto orçamentário. O Ministério sempre afirma que não há verbas para suprir aquilo que as unidades da capital precisam e nosso déficit hoje já está em quatro milhões ao mês", argumenta. Atualmente, o orçamento mensal da secretaria está em cerca de R$ 18 milhões, destinado pelo MS. Segundo o secretário, o recurso ideal seria em torno de R$ 24 milhões. "Se o nosso teto aumenta, vamos repassar aos hospitais e aos postos de saúde. A situação deve ser regularizada", acredita José.
Ainda segundo o diretor Maltez Filho, a cura do câncer depende do diagnóstico e tratamento rápidos, o que deveria ser alvo de prioridade da prefeitura. "O que a secretaria não entende é que estamos lidando aqui com pessoas portadoras de câncer, uma doença que é totalmente curável, desde que seja diagnosticada e tratada em tempo, ou seja, se eu não atendo meu paciente com o tempo que o tratamento requer, eu posso perdê-lo para uma doença, repito, curável, mas que pode matar se não formos rápidos", salienta Maltez.