Fonte iBahia - Texto Nelson Cadena
Os baianos da década de 20 perdiam o sono imaginando um jeito
de encontrar os supostos tesouros escondidos nos subterrâneos da Bahia,
ora objeto de reportagens na mídia baiana, entre opiniões de avalizados
historiadores que confirmavam a real existência desses túneis, cavados
na rocha, mas divergiam quanto a sua finalidade.
Eruditos defendiam a tese de serem apenas galerias pluviais, mas
outros aguçavam a imaginação dos soteropolitanos com alusões a
eventuais escavações feitas por religiosos, ou famílias abastadas, no
intuito de proteger seu patrimônio, durante a invasão holandesa de
1.624/25 ou para se precaver de outras investidas de corsários que
durante dois séculos espreitaram as costas da Bahia.
Um desses supostos tesouros, escondido na Fonte Nova, que seria uma
arca de ferro, ou bronze (segundo a versão) e madeira contendo ouro,
prata e jóias de valor inestimado, despertou a cobiça de alguns
aventureiros que na região fizeram escavações e perderam noites na busca
da fortuna, na esperança de garantir uma vida de opulência.
Segundo a lenda o tesouro da Fonte Nova estaria enterrado nas
proximidades do nascedouro da fonte que lhe deu o nome, entre a Ladeira
dos Galés e a rua que hoje dá acesso ao estádio, hoje Arena, antiga
Ladeira Fonte das Pedras, mais conhecida como Ladeira da Fonte Nova.
Lembrando que a nascente de água estaria localizada no sopé da colina
das Pitangueiras.
Foi um estudante da Escola Politêcnica o primeiro a se aventurar
naqueles subterrâneos, no ano de 1907, à frente de um grupo de rapazes
que se deparou com uma arca de ferro e madeira “coberta de espesa crosta
de poeira”, sem poder remove-la por estar parcialmente enterrada. Anos
depois, em 1912, Juvencio Alexandrino Mattos contou a saga de um cidadão
chamado Capitão Irineu que teria visto a arca com o suposto tesouro nas
suas escavações e detalhou como de bronze e madeira, sem mais nada a
informar. Outros aventureiros andaram pelo bueiro, a atividade sendo
intensificada após reportagem sobre o assunto publicada em A Tarde na sua edição de 22 de julho de 1915.
Muitas lendas e histórias correram entre a década de 20 e 30 em torno
do tesouro da Fonte Nova. Uma delas dizia do possível proprietário da
suposta arca que teria sido um cidadão opulento chamado Manuel de Castro
Neves que comprara as terras no entorno da Fonte Nova, antes
pertencentes a Joaquim José de Oliveira, senhor do Solar das
Pitangueiras. A descoberta de um crucifixo de ouro noticiada pela A Tarde em 1928, no entorno da Fonte Nova, só fez aguçar a curiosidade e alimentar a lenda. O Governo teria agido proibindo escavações.
Volta e meia noticias de desmoronamentos nas galerias e de
descobertas de poços subterrâneos na região, indicavam atividade intensa
de aventureiros no local. O fato é que o tesouro da Fonte Nova nunca
foi encontrado e se alguem de fato achou e tirou da terra a suposta arca
não contou para ninguem. Em 1950, quando começou a ser construido o
estádio pelo Governador Otavio Mangabeira, operarios retiraram toneladas
de terra nas imediações. Plantaram estacas de concreto e ferro. E se
ainda havia algum tesouro ficou alí para sempre.