Fonte G1 Bahia
Fila de domingo a domingo em frente à casa de número 65, na Ladeira São Cristovão, bairro da Liberdade, em Salvador. O movimento é no tabuleiro da baiana Binha, que produz e vende um acarajé que, há mais de 20 anos, conquistou quem mora no bairro e adjacências. "Quando eu comecei a vender meu marido estava desempregado, então a gente resolveu inventar uma coisa para atrair clientes. Eu coloquei [o acarajé de 1 kg] e não é que deu certo mesmo? O tempo foi passando e hoje eu vivo só disso", afirmou a baiana Regivalda Linhares, 44 anos.
A venda começa tarde, a partir das 22h, e sempre tem fila de espera. Em uma segunda-feira do mês de dezembro. Por volta das 23h, cerca de 10 pessoas já esperavam a primeira leva de acarajé, que ainda estava na fritura, e do abará. A espera foi de aproximadamente 30 minutos. Por volta da meia-noite, ainda havia cliente na fila. E quem passa por ali não leva só um quitute. São pelo menos dois por pessoa. Cada um custa R$ 4, sem camarão, e R$ 5 com camarão. O valor é igual ao dos quitutes vendidos normalmente nos tabuleiros da Bahia, que são cerca de quatro vezes menor do que o da baiana Binha.
O acarajé tem 12 cm, já o abará chega a medir até 22 cm. Vatapá, caruru, salada de tomate, pimenta e camarão são os acompanhamentos tradicionais que são feitos também pela baiana Binha.
Cada acarajé de 1kg é frito cerca de 30 minutos no azeite de dendê bem quente. Binha frita mais de dez por vez em uma bacia de alumínio. E os clientes não se incomodam em esperar. É o caso do motoboy Sandro Santos, que mora na Fazenda Grande, bairro vizinho à Liberdade. Ele esperou mais de meia hora para levar um acarajé. "Já esperei mais uma hora. Acho que vale a pena porque a qualidade é boa. Compensa. Ela ainda capricha [nos acompanhamentos]", disse ele, que comprou um acarajé completo para dividir com a namorada. "Sozinho eu não como", completou.
E Binha tem até cliente famoso. "Márcio Victor, do Psirico, vem aqui de vez em quando. Gosto muito dele", diz a baiana com orgulho. O artista fez elogios ao quitute da Liberdade, bairro bastante frequentado por ele desde a infância, e contou como conheceu o acarajé gigante. "É impressionante o acarajé dela. Conheci através de Júnior, dançarino do Psirico, que mora na Liberdade. A gente tinha saído de um ensaio com a banda e tava todo mundo com fome e passamos por um acarajé [tabuleiro] e deu vontade de comer. Aí ele deu a ideia de ir lá porque sairia mais barato e dava pra todo mundo. Juntou o útil ao agradável. Virei freguês. Agora peço para ele [o dançarino] trazer para mim de vez em quando", afirmou o cantor. A baiana afirma não contar quantos acarajés e abarás vende por dia, mas garante que dá para se sustentar. "Não dá para ficar rica, mas dá para sobreviver". Se ela deixa de vender algum dia, os clientes cobram. Há alguns anos a baiana distribuía até senha para os clientes. "Começava a dar a senha pela manhã e só começava a vender tarde da noite", comenta.
A venda vai até a hora que tiver os bolinhos. "Normalmente fico aqui até umas 2h da manhã durante a semana, e até umas 3h nos finais de semana. Só folgo no Natal e no Ano Novo. Eles [clientes] me cobram", disse Regivalda.Na hora de atender os clientes, Binha bate a massa, frita os acarajés e serve quem está na fila. O tabuleiro fica em uma área externa da casa onde mora. O local é gradeado e todo o contato com os clientes é feito por uma janelinha na grade. Quem recolhe o dinheiro é o marido dela, seu Albino.
O preparo
Os ingredientes do quitute mais famoso da Bahia, e talvez o mais simbólico, são simples. Feijão fradinho, alho, cebola, sal e azeite de dendê [para fritar] se transformam no acarajé. O abará, que pode ser chamado de irmão do acarajé, leva quase os mesmos ingredientes. A diferença entre os dois é que o abará não ganha o reforço do camarão seco, castanha e amendoim na massa, além de ser cozido no vapor.
Os ingredientes do quitute mais famoso da Bahia, e talvez o mais simbólico, são simples. Feijão fradinho, alho, cebola, sal e azeite de dendê [para fritar] se transformam no acarajé. O abará, que pode ser chamado de irmão do acarajé, leva quase os mesmos ingredientes. A diferença entre os dois é que o abará não ganha o reforço do camarão seco, castanha e amendoim na massa, além de ser cozido no vapor.
Para fazer os bolinhos gigantes, Binha compra os ingredientes na Feira de São Joaquim e no Centro de Abastecimento (Ceasa), em Simões Filho. Ela usa mais de meia saca de feijão fradinho por dia. São cerca de 45 kg de massa pronta diariamente. Para preparar os acompanhamentos, a baiana usa, por semana, quatro caixas grandes de tomate (salada), 5 a 6 kg de farinha de trigo e leite de coco (vatapá), 2 a 3 sacas de quiabo (caruru) e aproximadamente 2 sacas (40 kg) de camarão seco.
"Quando vou comprar os ingredientes saio de casa antes das 6h para ir à Feira de São Joaquim ou na Ceasa. Começo a preparar tudo mais ou menos umas 14h30 e não tem só o acarajé, tem a casa para cuidar também. Os acompanhamentos faço no dia", explica Binha. "Não tenho ninguém na família que faça essas coisas. Morei no sertão, no Recôncavo Baiano, e aprendi lá. Chegou um tempo que tive necessidade e comecei a vender", conclui.