Fonte Uma visão do mundo
Não faz muito tempo que no Brasil funcionava assim: o homem bem sucedido desposava uma mulher com a qual iria construir uma família. Salvo exceções, este homem então trancava a mulher em casa. Ela servia para sexo reprodutivo, apenas. E, quando tivesse filhos, serviria para cuidar das crianças. O homem ia aos prostíbulos para ter sexo por prazer.
As mulheres só podiam sair de casa acompanhadas dos maridos. Sozinhas, só podiam ir para as igrejas. Não era estranho que as mulheres gostassem tanto de ir a Igreja: lá, elas mantinham relações sexuais com os padres, além de receber algum tipo de atenção.
Chega a ser surreal tal situação, mas foi assim por muito, muito tempo. Algumas sociedades e pessoas evoluíram, mas nem todos. Uma pesquisa recente do Ipea revelou que mais da metade dos entrevistados concorda com a visão de que “há mulheres feitas para casar e outras para levar para cama“.
Não teria problema alguém “casar” com uma mulher e ter relações com outras. Alguns grupos hedonistas funcionam assim justamente porque este é o “contrato” tácito firmado entre as partes. A pesquisa revela um pensamento um pouco mais perigoso. Estamos falando do homem que casa e jura fidelidade a uma mulher, mas mantém relações sexuais às escondidas com outras. E, com isso, o aumento de casos de AIDS em mulheres casadas e filhos que já nascem condenados porque o pai traiu a esposa com outra mulher (ou, muitas vezes, com outro homem ou transexual).
Então, não estamos aqui discutindo se trair é uma coisa feia, um pecado. Estamos falando das consequências reais de uma cultura machista e porque esse tipo de ideia precisa ser combatida. Ou se tem uma relação aberta e franca, ou talvez o maridão se depare com uma esposa começando a exigir camisinha depois de saber que uma amiga pegou AIDS do parceiro, por exemplo.
Outro exemplo desta cultura machista perniciosa foi constatado também pelo Ipea: 65% dos brasileiros acham que mulher de roupa curta merece ser atacada. O homem brasileiro, em toda sua brutalidade e ignorância, parece desconhecer ou ignorar o fato de que só existe um único culpado em caso de estupro: o estuprador.
“Mas e a mulher que anda de minissaia na rua?”
Ela anda do jeito que ela achar melhor. Se ela quiser andar de calcinha em um dia quente, ainda o único culpado por um eventual estupro é o estuprador. Aliás, para estes trogloditas, vale lembrar que sexo forçado com sua esposa/namorada e mesmo com uma prostituta TAMBÉM É ESTUPRO!
E se você acha que o homem é um “coitado” que não consegue se controlar, que naquele dia estava muito excitado, etc, cuidado! Sabe a sua irmã ou a sua filha que vai para a balada? Pois é… ela vai de burca para as festinhas ou vai toda produzida? Então… você ficaria com dó de um homem que “não resistiu aos hormônios, à tentação” e estuprou a mulher? Provavelmente, não. Provavelmente você, homem, deve achar um absurdo justificar um crime hediondo assim. Neste caso, então, porque isso valeria para os casos que ocorressem com mulheres desconhecidas?
Claro que não. Todas mulheres merecem o respeito e tem direito à sua dignidade e integridade física. Se você é daqueles que “não consegue se controlar”, “vive se sentindo provocado” pelas “rabudas” no metrô ou coisa do tipo, você não precisa de uma vagina: você precisa de um tratamento. Mais do que isso: você precisa entender que o mundo está evoluindo e, cada vez menos, haverá espaço para tratar as mulheres como uma boneca inflável receptora de esperma.
Não podemos permitir que esse tipo de ideia se prolifere. Viu alguma brincadeira, piada ou mesmo uma discussão em que alguém apoia estas ideias machistas e opressoras? Levante e seja a voz discordante. Explique, debata e combata. Senão, a próxima vítima dos encoxadores do metrô ou de um estuprador pode ser alguém com a qual você se importa.