Fonte Terra
A praia de Copacabana, 
normalmente palco de cariocas de corpos esculturais em pequenos trajes 
de banho, é o destino neste sábado de uma peregrinação de centenas de 
milhares de jovens católicos e de uma vigília embalada pelas ondas na 
qual o Papa fará uma oração.
Francisco, o primeiro papa latino-americano, buscará
 na emblemática praia revitalizar a fé dos peregrinos provenientes de 
todo o mundo, num momento em que a Igreja perde fiéis, sobretudo jovens,
 que engrossam as fileiras de evangélicos ou se declaram sem religião.
O papa argentino preside no Rio de Janeiro
 a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com mais de 320.000 peregrinos de
 170 países, e em cujos grandes eventos com Francisco compareceram cerca
 de 1,5 milhão de pessoas no país mais católico do mundo.
Durante seus seis dias de viagem ao Brasil,
 Francisco pediu para que os jovens façam "bagunça" nas dioceses e 
"levem a Igreja às ruas", para que a instituição "não se converta em uma
 ONG".
 
Também pediu para que conservem a fé na Igreja, apesar dos maus 
sacerdotes, e nas instituições políticas, apesar da corrupção, depois 
que grandes manifestações protagonizadas por jovens sacudiram o Brasil nas últimas semanas.
"Jesus se une a tantos jovens que perderam sua confiança nas 
instituições políticas porque veem egoísmo e corrupção, ou que perderam 
sua fé na Igreja, e inclusive 
em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho", 
disse o papa na sexta-feira em um discurso, ao terminar de presidir uma 
gigantesca Via Sacra na praia de Copacabana.
"Quanto nossas incoerências fazem Jesus sofrer!", exclamou o 
pontífice diante de um mar de peregrinos, em um chamado a viver de 
acordo com o que se prega.
O papa, que assumiu o trono de Pedro em março substituindo Bento XVI,
 enfrenta o desafio de renovar uma Igreja em crise após escândalos de 
corrupção e pedofilia.
Também deve seguir conquistando fiéis, embora a Igreja mantenha 
dogmas, desafiados às vezes pelos jovens, como a oposição ao uso do 
preservativo, à homossexualidade, ao aborto até mesmo em casos de 
estupro e a defesa da virgindade até o casamento.
Desde que chegou ao Rio, o papa mostrou seu carisma e grande jogo de 
cintura, dirigindo-se ao povo com uma linguagem simples e acessível, 
tomando chimarrão no papamóvel, deixando-se tocar por fervorosos fiéis, 
brincando, improvisando em seus discursos.
A estudante Soledad Bohle, uma peregrina argentina de 21 anos, está 
encantada com o papa Francisco "porque tem uma forma direta de dizer as 
coisas, e isso chega muito aos jovens", disse à AFP durante a Via Sacra 
em Copacabana.
"Precisamos de um Papa mais próximo da América Latina. Sempre eram 
europeus", disse Rodrigo Blanco, um estudante de medicina de 21 anos, 
também compatriota de Francisco.
Devido às chuvas torrenciais que inundaram o Campo da Fé de Guaratiba
 - onde deveria culminar a peregrinação de 13 km e ser celebrada a 
vigília e a missa final da JMJ - os três eventos foram transferidos para
 a praia de Copacabana.
O assunto constrangeu as autoridades do Rio de Janeiro, que fizeram 
uma incomum 'mea culpa', e para quem a organização da JMJ é um teste 
antes do Mundial de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. 
Finalmente, os jovens peregrinarão 9,5 km durante todo o sábado a 
partir da estação Central de trens, no centro da cidade, até a praia. 
Depois acamparão na areia de Copacabana, em uma vigília onde estão 
previstos vários shows e onde o Papa rezará às 19h30 (horário de 
Brasília).
Mas antes Francisco terá outros compromissos: rezará durante a manhã 
uma missa na Catedral Metropolitana para cardeais, bispos, religiosos e 
seminaristas da JMJ e se reunirá com políticos, diplomatas, 
representantes da sociedade civil e da cultura no Teatro Municipal.
Também almoçará com os cardeais e bispos brasileiros, pronunciará um 
discurso e passeará três vezes de papamóvel pela cidade, em mais uma 
demonstração da proximidade que anseia com os fiéis.